quarta-feira, 31 de outubro de 2012

O melhor veio de Nazaré!...

                      (Jo 1,43-51)



Que bom, Natanael,
Que “Ele” te qualificou
Como um verdadeiro
Varão de Israel!...

Que bom, Natanael ,
Que ao ler a “Palavra”
Eu tenha te encontrado a caminhar
Com “Ele” em Nazaré!...

Que bom, Natanael,
Que com humor
Tenhas Perguntado a Felipe:
“Porventura, será que algo bom
  Pode vir de Nazaré”?!...

Que bom, Natanael,
Que o teu companheiro
(Por Ele já seduzido, Jr 20,7)
Não hesitou...
Em ti retrucar ligeiro:
  “Vem e vê”!

Que bom, Natanael,
Que foste ver
O melhor de Nazaré,
Pois só assim
Tiveste a oportunidade  
De ouvi-lO dizer:
“Eu te vi sentado
  Embaixo daquela figueira,
  Antes que Felipe te chamasse “...

Que bom, Natanael,
Que (surpreso e extasiado)
Proclamaste a tua linda
Profissão de fé:
  “Tu és o Filho de Deus!”

Que bom, Natanael,
Que “Ele” tenha querido te revelar
O mais resguardado segredo
(Que por certo no céu há!)
Antes mesmo do dia
Em que irias para sempre
Lá no céu O contemplar:
“Verás o céu aberto
E os anjos de Deus,
Subindo e descendo,
Ao Filho de Deus adorar”!


Montes Claros(MG), 02-01-2012
RELMendes

terça-feira, 30 de outubro de 2012

O revolto mar da indecisão...






Com uma mochila repleta
De muitos sonhos sedutores,
E a cabeça fervilhando de ilusões...
É preciso se pôr a caminho
Para descerrar as emperradas
Portas da vidas.
Ir-se embora ou permanecer,
Eis ai a terrível questão!...

Como deixar de usufruir o já obtido?
Como se desvencilhar do materno afeto?
Como abandonar o boteco da esquina
Onde se beberica nas cálidas noites de verão?
Ah, essa não!

Já pensou em largar para trás
Os lábios saborosos da cabocla
Que, ao pôr do sol, ávidos de beijos
De graça se ofertam
Daquela janela da varanda?
Oh! Que louca abominação!
Oh! Que revolto mar de indecisão!
Optar talvez seja
No transcorrer do dia-a-dia
O que de mais difícil na vida há.

Mas como ampliar horizontes?
Como deixar de ser menino
Sem partir sei lá pra onde;
Sem alçar voo pro infinito ofuscante;
Sem galgar montanhas em busca de sonhos;
Sem se desviar pelos caminhos percorridos;
E sem se distrair envolvido pelo abusado
Encantamento das cunhantãs?


Montes Claros (MG), 10-01-2012
RELMMendes



domingo, 28 de outubro de 2012

Só alguns retalhos de saudade!...

                                                        (poecrônioca!)

Após o almoço,
Enquanto na rede
 Zefinha suspirava debulhando as contas do rosário,
(Que lhe escorriam por entre os miúdos dedos
a cada Ave Maria),
Ernesto, o carrancudo marido,
Cochilava (durante a prolongada sesta)
Embalado por sonhos e devaneios,
Quiçá, transportados da infância
Lá dos tempos vividos no Alentejo.

A prole de seis rebentos
Entretinha-se por ali mesmo,
Esfregando-se pelos cantos,
Ao derredor dos velhinhos!

Com exceção de Julieta,
(Que se casara com Sebastião,
o  decantado fiscal da receita),
E da corajosa e destemida Elisa,
A quem o intransigente patriarca
Não perdoou nem no seu leito de morte,
Só por ter ousado se enfiar
No convento das célebres doroteias,
Sem ter o seu devido consentimento!

Guiomar, a mais serelepe das três velhinhas,
Vez por outra, sustentada pelas pernas muito finas,
( Que nem cano de carabina de cangaceiro,
como diria Carlos, único varão entre as meninas),
Aventurava-se a ficar debruçada
No grosso parapeito da janela da sala
Só pra bisbilhotar a vida alheia,
Que lenta se derramava
Pelos incandescentes paralelepípedos
Que cobriam a rua onde felizes residiam!


Tula, a mais tímida das meninas,
(Diga-se de passagem muito parecidas
com aquelas “cajazeiras da novela”),
Sempre se continha lá no borralho
A preparar o rango da família,
Mas vez por outra de soslaio,
Observava tudo o que na sala ocorria!

A mais aperreada
Das três vitalinas
Era a Berta!
Uma espécie de sentinela desperta,
Um verdadeiro leme,
Pois tudo na casa
 Conduzia sozinha!

Lá pelos recantos da hoje famosa Aldeota
Fui recolhendo esses retalhos de saudade
Como se fossem velas coloridas de jangadas,
Que ainda hoje vejo a tremular nos verdes mares
De minhas muitas lembranças!...


Montes Claros(MG), 30-06-2012
RELMendes