(e eu,
até então, não sabia que o cara era o poeta!)
-Por incrível que lhes possa parecer, lá pelos
idos de 63 até meados de 68, fui vizinho de Gu ilherme
de Almeida - sem sabê-lo ser o poeta que era – porque residíamos à rua Caiubi,
em Perdizes, bairro de classe média alta, em São Paulo,onde situavam-se pontos
estratégicos de encontros da intelectualidade católica da ala progressista : o
“Convento dos Dominicanos”e a PUC(SP).
-Certa feita, ao saber que Gu ilherme de Almeida – o príncipe dos poetas
brasileiros, a época, – seria homenageado na, e pela PUC de Sampa - ali bem
pertinho do meu apartamento , mais precisamente a umas duas ou três quadras de
distância - resolvi então ir conhecê-lo pessoalmente, e quem sabe aprender algo
útil para o vestibular. Mas que insolência minha!
-Logo ao adentrar no
amplo auditório do famoso “TUCA”, qual não fora a surpresa ao eu descobrir que
o poeta a ser homenageado era o meu vizinho. Aquele cara, que do solar do seu
sobrado, todas as madrugadas, ao eu retornar de minhas algazarras noturnas –
galinhagens mesmo, prá dizer a verdade – sempre me cumprimentava melancolicamente,
vez que sempre estava ali, esperando a musa, segundo afirmava... E eu lá sabia
o que era musa?! Meu negócio, se assim se pode dizer, era passar a noite
dançando e bebendo no “Ela Cravo e Canela” e no “João Sebastião Bar”... Só sei é que, todas as noites, ele estava
sempre ali em seu solar, sozinho, escrevendo e bebericando uns drinks...
Portanto, encontrava-se sempre chumbado por uns bons goles de whisky. Fato
esse, que mesmo da rua, se percebia perfeitamente:
- “Bom alvorecer, porongo”!
Dizia-me ele,
mostrando-me uma garrafa e um sorriso largo.
Também, da mesma
forma, chumbado, por vários “cuba libres”e incontáveis “daiquiris”, respondia-lhe:
-“Bom dia, senhor, tudo chuchu beleza?”
-Mas retomemos o fio
da meada – a homenagem ao poeta – esta coube a uma famosa filóloga da dita PUC
que se pôs a debulhar, por mais de quatro horas, uma sucessão interminável de
palavras desconhecidas e conceitos filológicos esdrúxulos que, ao mesmo tempo,
encantavam-me – Quanto conhecimento! – e também, deprimiam-me profundamente: -
Meu DEUS, não sei nada!...
Mas de esguelha, eu
não perdia o poeta de vista, que, vez por outra anotava alguma coisa em um
pedacinho de papel, o que me deixava muito curioso. E, portanto, constantemente
eu me inquira: - Meu Deus, o que será que ele tanto anota?
-Ao terminar a tal
homenagem, e findos os cumprimentos à fabulosa filóloga e ao poeta príncipe,
aproximei-me dele, sorrateiramente, e perguntei-lhe sussurrando:
-Olá poeta, o senhor entendeu tudo o que
ela disse?
Ele olhou-me
sorridente e, com um ar de compadecido, de mim e dele mesmo, deu-me de presente
o tal pedacinho de papel em que anotara inúmeras palavras ditas pela ilustre palestrante.
Sendo que, de um lado do papelzinho, as palavras lá escritas eram precedidas
pela palavra HIPÓTESE, e em seu verso o poeta havia escrito sua CONCLUSÃO:
-“Banguela não
mastiga chicletes!”
Então, soltei uma
gargalhada absurdamente escandalosa... porque descobrira que nem o 3º
príncipe dos poetas brasileiros, a
época, tinha compreendido todas as palavras ditas ou malditas, pela bendita
filóloga... Que felicidade, meu Deus!
Ora! Se até ele que
era ele, o príncipe do não sei lá das quantas, também não entendera nada do que
fora dito pela bendita filóloga, por que teria eu de compreender tudo aquilo então?!...
Por fim, saí dali do
“TUCA”, feliz da vida. O pedaçinho de papel que o Guilherme de Almeida me dera,
guardei-o tão bem escondido, que nem bem eu sei onde. Mas que ele, o 3º príncipe dos poetas brasileiros, me deu de
presente aquele pedaçinho de papel aonde anotara aquelas tantas palavras
esquisitas naquela noite memorável, tenha por certo que me deu. Ah, se me deu!
Montes Claros(MG),
17-02-2014
REL Mendes
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