sábado, 1 de março de 2014

Um dia, ganhei de um poeta uma anotaçãozinha hilária!



      (e eu, até então, não sabia que o cara era o poeta!)


 -Por incrível que lhes possa parecer, lá pelos idos de 63 até meados de 68, fui vizinho de Guilherme de Almeida - sem sabê-lo ser o poeta que era – porque residíamos à rua Caiubi, em Perdizes, bairro de classe média alta, em São Paulo,onde situavam-se pontos estratégicos de encontros da intelectualidade católica da ala progressista : o “Convento dos Dominicanos”e a PUC(SP).
            

 -Certa feita, ao saber que Guilherme de Almeida – o príncipe dos poetas brasileiros, a época, – seria homenageado na, e pela PUC de Sampa - ali bem pertinho do meu apartamento , mais precisamente a umas duas ou três quadras de distância - resolvi então ir conhecê-lo pessoalmente, e quem sabe aprender algo útil para o vestibular. Mas que insolência minha!


-Logo ao adentrar no amplo auditório do famoso “TUCA”, qual não fora a surpresa ao eu descobrir que o poeta a ser homenageado era o meu vizinho. Aquele cara, que do solar do seu sobrado, todas as madrugadas, ao eu retornar de minhas algazarras noturnas – galinhagens mesmo, prá dizer a verdade – sempre me cumprimentava melancolicamente, vez que sempre estava ali, esperando a musa, segundo afirmava... E eu lá sabia o que era musa?! Meu negócio, se assim se pode dizer, era passar a noite dançando e bebendo no “Ela Cravo e Canela” e no “João Sebastião Bar”...  Só sei é que, todas as noites, ele estava sempre ali em seu solar, sozinho, escrevendo e bebericando uns drinks... Portanto, encontrava-se sempre chumbado por uns bons goles de whisky. Fato esse, que mesmo da rua, se percebia perfeitamente:
 
 - “Bom alvorecer, porongo”!
Dizia-me ele, mostrando-me uma garrafa e um sorriso largo.


Também, da mesma forma, chumbado, por vários “cuba libres”e  incontáveis “daiquiris”, respondia-lhe:
 
 -“Bom dia, senhor, tudo chuchu beleza?”


-Mas retomemos o fio da meada – a homenagem ao poeta – esta coube a uma famosa filóloga da dita PUC que se pôs a debulhar, por mais de quatro horas, uma sucessão interminável de palavras desconhecidas e conceitos filológicos esdrúxulos que, ao mesmo tempo, encantavam-me – Quanto conhecimento! – e também, deprimiam-me profundamente: - Meu DEUS, não sei nada!...
Mas de esguelha, eu não perdia o poeta de vista, que, vez por outra anotava alguma coisa em um pedacinho de papel, o que me deixava muito curioso. E, portanto, constantemente eu me inquira: - Meu Deus, o que será que ele tanto anota?


-Ao terminar a tal homenagem, e findos os cumprimentos à fabulosa filóloga e ao poeta príncipe, aproximei-me dele, sorrateiramente, e perguntei-lhe sussurrando:
    -Olá poeta, o senhor entendeu tudo o que ela disse?
Ele olhou-me sorridente e, com um ar de compadecido, de mim e dele mesmo, deu-me de presente o tal pedacinho de papel em que anotara inúmeras palavras ditas pela ilustre palestrante. Sendo que, de um lado do papelzinho, as palavras lá escritas eram precedidas pela palavra HIPÓTESE, e em seu verso o poeta havia escrito sua CONCLUSÃO:
 
-“Banguela não mastiga chicletes!”


Então, soltei uma gargalhada absurdamente escandalosa... porque descobrira que nem o 3º príncipe dos poetas brasileiros,  a época, tinha compreendido todas as palavras ditas ou malditas, pela bendita filóloga... Que felicidade, meu Deus!
Ora! Se até ele que era ele, o príncipe do não sei lá das quantas, também não entendera nada do que fora dito pela bendita filóloga, por que teria eu de compreender tudo aquilo  então?!...
Por fim, saí dali do “TUCA”, feliz da vida. O pedaçinho de papel que o Guilherme de Almeida me dera, guardei-o tão bem escondido, que nem bem eu sei onde. Mas que ele, o 3º  príncipe dos poetas brasileiros, me deu de presente aquele pedaçinho de papel aonde anotara aquelas tantas palavras esquisitas naquela noite memorável, tenha por certo que me deu. Ah, se me deu!

Montes Claros(MG), 17-02-2014

REL Mendes

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