segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Desvairada transparência!



-Quando estou/ como estou/ agora/
Pássaro ferido de amor/avassalador/
Ah! Não silencio/ nem escondo/nada/ jamais!

-Posto que/ à língua solta/ declamo esse amor/
Aos quatro cantos do mundo/afora/
Quer em versos /miúdos/poemas /longos/
Poesias/ aos montes/ ou mesmo/
Em singelas trovinhas ingênuas/ de fazer dó!

-Pois sempre/ em qualquer esquina que paro/ por parar/
Hei de expor/ e exporei /sim/ esse meu amor /pulsante /
Para quem quiser me ouvir falar dele/ à beça/em bom som/
Nem tampouco/ postergarei/ nunca/ o seu conhecimento/
Pra quem quer que seja/ só para depois de amanhã/Jamais!

-Posto que agora/ neste exato momento/
Em um botequim qualquer/ das quebradas da vida/
Declino-o/ em alto e bom som/ sem pundonores algum/
Para que todos saibam/ antecipadamente
À qualquer especulação/ duvidosa / ou maledicente/
Que estou pássaro ferido /de amor/ avassalador/ sim!

-Então/ por favor/ amigos/ e desafetos/também/
Lancem depressinha /por ai afora /
- Quem sabe/ quiçá/ ao vento/ ou às nuvens/
Ou /quiçá/ à boca miúda/ conversadeira/-
Todos os versos/ ou os versos /todos/
Todas as palavras/ ou as palavras /todas/
Desse nosso poema de amor/ avassalador/
Ou dessa paixão totalmente/desvairada /
Que só nós /dois/eu e ela/ é que sabemos/
- O quão ele é plenamente/ intenso/
Posto que o vivenciamos /agora /
- O Quão ele é impossivelmente /eterno/
Posto que ele/ o amor/ é certamente /finito!

-Entretanto/ ela e eu/ desconfiamos/ profundamente/
Que certamente ele/ o nosso amor/ se esconderá
Nos desvãos de uma saudade/ infinda/
Vez que nesse nosso /então/ ele/ o amor/
A nós nos enche /de contentamento/
E de um inenarrável/ prazer/ sem fim!

Montes Claros, 18-10-2012
RELMendes


quarta-feira, 28 de outubro de 2015

Um professorzinho arretado

(sempre pintei para os meus alunos

 novos horizontes...)
Nunca despertei    
Alunos ou alunas
Senão para a vida...ora!

Apesar de n´s controvérsias
Próprias do delicado oficio
Nós não estávamos nem ai
Pois a procissão da vida
Tem de continuar
Quer se queira ou não
E o tempo não espera ninguém
Que cochila no caminho.

-Portanto juntos  
Quer só em sonhos
Quer tão-somente
Em pesquisas bibliográficas

Transpúnhamos as montanhas
Das terras do saboroso pequi
E chegávamos alhures
Quiçá até lá pelas bandas
Das terras frias do Sul
Em busca de novos horizontes
Nunca dantes...até então,
Por nós navegados.  

Nunca despertei
Alunos ou alunas
Senão para a vida...ora!

Entretanto frequentemente
Alçávamos voos inenarráveis  
Para muito além do melancólico
Mais do mesmo em que vivíamos
Por essas bandas de cá
Desse amado “Sertão”.
E por quanta ousadia à época
Os nossos voos eram  
Ora serenos tranquilos
Ora turbulentos    ...
Vez que eram frutos de debates
Abertos francos e intensos
O que nos permitia apreender
Que nem todo o não nos nega
Que nem tudo o que se almeja         
Se obtém no momento exato
Em que se deseja enfim
Todavia tentar também
Não custa nada... Pois não?!   
                                                         
Nunca despertei
Alunos ou alunas
Senão para a vida...ora!

Entretanto ainda hoje
Com eles e elas...no coração,
Porquanto fora professor
Sempre ressurjo
Entre eles
Inesperadamente
Muito mais livre
Muito mais independente...
Muito mais feliz...
E muito mais senhor
Do meu destino enfim.
Então que se dane o mundo
Porque não me chamo Raimundo
Mas que não se dane o resto
Porque me chamo Ernesto!

 Nunca despertei
Alunos ou alunas
Senão para a vida... Ufa!
Mas que valeu a pena...
Ora, se valeu!...

Montes Claros (MG), 15-10-2015
RELMendes

quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Será que Teresa vem?!


E porquê não viria?
                     Sta. Teresa D´Ávila

-Ora! Se há brisa fresca soprando...
Nos vales montes desertos 
E campinas...verdejantes, 
E se visíveis...a nossos olhos,
Flores desabrocham...nos jardins da vida,
Então, suscito-lhes que:
- Recolham...imediatamente,
Suas murmurações desnecessárias
E seus inúteis lamentos...
- Enxuguem suas lágrimas...de tristeza,
-E encham-se...de radiante alegria,
Ò vós todos, filhos e filhas de Teresa...
Porquanto ela, vossa querida mãe 
Teresa de Jesus, vem aí...
Trazendo...consigo, 
Seu “Bem-Amado Esposo Jesus”,
O divino hóspede de su´ alma...
Que...desde sua juventude,
Instalou-se...definitivamente,
No mais secreto aposento
De seu “Castelo Interior”...

-Portanto...apressai-vos
E aligeirai-vos... Ò vós todos, 
Filhas e filhos de Tereza...
Para a contento recebê-la...
Bem como, também, a seu queridíssimo 
“Bem Amado Esposo Jesus”...
Pois eles chegarão...a qualquer momento,
Aqui nesse acolhedor “Carmelo em Flores”...
Em busca de alojamento...aconchegante,
Em vossos generosos corações...consagrados,
Para repousarem...por algum tempo,
Se acolhidos forem... Com muita satisfação
Imenso amor e grande  generosidade, enfim...

-Então, Ò vós todos, filhas e filhos de Teresa,
Sem se avexarem...desnecessariamente,
Apressai-vos contudo...um pouquinho só, 
Para bem receberem...tão ilustres hóspedes,
Que por decerto se farão presentes... 
Sem duvida alguma, a qualquer momento.

-Em assim sendo... Mãos à obras,
Ò vós todos, filhos e filhas de Teresa,
Pois não há tempo a se perder: 
- Preparai-lhes, então...cuidadosamente, 
Os aposentos das ermidas 
De vossas próprias almas...
Sedentas de “Amor Divino”...
(Vossos corações, enfim!)
- Escancarai...totalmente,
As portas e as janelas de vossas mentes
Para que o “Sopro Divino” as areje...
Sem economias alguma... 
-Ablucionai...com gotas de generosidade,  
O piso duro de chão batido 
De vossas almas carentes de “Amor Eterno”,
E varrei-o...com a vassoura de piaçava
De vossas constantes orações... 
Bem de leve, de levinho, mesmo,
Pra evitar que a poeira dos caprichos
De vossas fragilidades suspenda,
E espante tão esperados hóspedes...
-Deixai posta a mesa da partilha
Do vosso pão de cada dia: 
- Uma toalha vermelha... 
A do vosso martírio cotidiano, 
Mas que seja estampada 
De brancas violetas mimosas...
Em homenagem a pureza dos santos... 
- Uma touceira farta de avenca miúda 
Para sombrear a imagem sagrada
Da querida “Virgem do Carmo”, 
Também, vai muito bem!
- Uma bandeja com canecas...bem ariadas,
Para lembrar o “Cálice Bento”, 
É deveras muito sensato!
- Algumas xícaras de porcelana...
Para recordar a fragilidade humana, 
É uma boa!
- Um bule de chá...bem quente,
Para nos lembrar a ternura de Deus,
É uma benção!
- Uma travessa de cobre repleta
De fritadas de batatas saborosas,
Bem  a gosto de Teresa,
Para nos lembrar da fartura 
Com que o “Deus Vivo” nos alimenta,
É demonstração de gratidão!
- Uma bilha de água fresquinha
Para saciar-lhes a sede constante
Que têm de salvar-nos...a nós todos,
Agradá-los-á, sobremaneira!


-Ah! E para que “Ele”, Jesus,
O “Bem Amado Esposo de Teresa” 
Não queira...ligeiro ou apressado,
Ir-se embora do ofertado recanto,   
Arrumem...com muito esmero,
O alvo leito nupcial da pureza...
(Que outra coisa não é...senão,
Os vossos corações suplicantes
Pela salvação do mundo inteiro!)
Aonde repousarão... Teresa  
E o “Amado Senhor” dela.

-Por fim, apressem-se... Ó vós todos, 
Filhos e filhas de Teresa,
Sem contudo muito se avexarem,
Vez que ela um dia nos legou
Esse admirável conselho:
- “Nada te perturbe, Nada te espante,
Tudo passa, Deus não muda,
A paciência tudo alcança;
Quem a Deus tem, Nada lhe falta:
Só Deus basta.”   

  Montes Claros (MG), 14-06-2012
  REL Mendes  


domingo, 4 de outubro de 2015

O velho o sonho e a Serra

 (lembranças são janelas abertas ao passado!... )



Quando vez por outra
A brincar o sol se esconde
Nas embaçadas tardes de outono,
O velho aliviado se escancha
Em uma desgastada espreguiçadeira   
Pra se refrescar na sossegada varanda...
E se balança e cochila
E se balança sem parar
Por horas a fio.

-O olhar dele se perde no tempo...
A degustar lembranças alvoroçadas...
Em sua excelente memória.
Ressabiado...
O velho não as revela a ninguém
Por nada deste mundo
Só as sussurra consigo mesmo
Abismado:

-Ah! Lembranças lembranças
Cada qual mais saborosa que a outra.
Mas enfim, será pra onde elas me levam?
Pois sempre me arrastam ao pretérito
Após cochilos e mais cochilos.
Nas asas delas alço vôo
E lá de cima...
Vislumbro serras montes
E belas campinas...

Então, um sussurro angelical...
Ao velho responde:

-Ora, meu velho!
Elas seguem...lá no passado,
As tuas jovens pegadas
E certamente...sem hesitar,  
Levar-te-ão determinadas
Ao topo da exuberante
“Serra da Piedade”
-onde repousaste
tranquilamente a cabeça
No acolhedor colo materno
Da “Padroeira de Minas”
-Onde contemplaste
Ao amanhecer
Logo após a oração das matinas...
O avançar ligeiro da sombra da Serra,
Que altiva se derramava
Sobre a Belo Horizonte
A linda capital das Minas!

-Então o velho saudoso balbucia

-Oh! Quão formosa és tú,
Ó amada Serra!
Serra...onde vivi a doce saga
De repensar...mais uma vez ainda,
O meu fantasioso sonho juvenil  
Em fazer-me um recatado mongezinho
Que nem se quer seria percebido
Aos olhos malvados desse mundo.
Entretanto...
Chutei o balde
Chutei a bola na trave
E tomei outro rumo...ora!

Derepente...
Uma voz estridente ecoa
Lá da cozinha...
E trinca o encantamento
Do sublime devaneio:

-Véio! Ô veio!
-Vem logo tomá o café!

Então aborrecidíssimo...
Resmunga o ancião sonhador:

Ara! Não quero ser perturbado agora!
Espera só mais um pouquinho!...
Só levantar-me-ei dessa espreguiçadeira  
Depois de degustar...uma a uma,
Todas as lembranças
De minha saudosa juventude
Que o tempo levou pra sempre
E não voltará jamais,
Nem que a vaca tussa!

Montes Claros, 26-04-2012

RELMendes 

sábado, 26 de setembro de 2015

O percurso da vida...

    (Sob o olhar de um homem de TEATRO)
-Lá com seus botões
O homem de TEATRO
Rumina devaneios:

-Ó meu menestrezinho em chegada
Se concluída a tua gestação demorada
A natureza a ti te infrinja a abandonar
O aconchego quente do útero materno
E se isto a ti em nada te apraza...
Então eu te proponho
Veementemente
Que ainda no proscênio desta vida
Protestes gritando
E protestes aos berros!...

-Entretanto...
Se perceberes...logo que do parto
Nessa terra te derrames estrebuchando,
Que neste mundo agitado
Não há outra saída
Senão viver
E viver artisticamente
Então prova tua existência...gritando,
E gritando aos berros!...

-Mas se desde a tua concepção
Tão desejada
És tu tão ansiosamente esperado
Então vem depressa!... Vem logo!
Porquanto de curiosidades
Perco-me em ansiedades

-Mas se vieres agorinha mesmo
Se me mostrares o teu rosto
Ainda oculto,
Contar-te-ei um segredo
Ao pé do ouvido
Então olha só! O meu delírio
Cá tão somente entre nós
Outro não é senão o de ver-te
Atuar no dia a dia
Pelos incontáveis tablados desta vida
Verdinha verdinha
Fazendo reflorescerem
Em mim,
Tantas emoções escondidas

-Portanto...coragem!
Vem depressa! Vem a pés em chão!
Pois aqui um mundarel de gente
Espera-te...ansiosamente
E tem pressa á beça...ora!  

-Lá com seus botões,
O homem de TEATRO
Pensou ter ouvido
Sussurros abusados:

-Olha só aqui...
Seu teatrólogo impertinente!
Presta bem atenção!...
Se versátil será o meu ofício
De futuro menestrel,
Saiba que tanto mais ainda
O será o semblante
Inconstante e volúvel
Do meu rosto a chegar
Entretanto...se mesmo assim
Te dá gosto conhecê-lo...de imediato,
Então escolhas ai
Na ladainha...abaixo,
Aquele que mais do teu agrado seja:

-Um rosto dolorido...
-Um rosto tristonho,
-Um rosto espantado...
-Um rosto assustado,
-Um rosto empalamado...
-Um rosto faminto,
-Um rosto multimascarado
Como é devido
A um verdadeiro artista.
Ah! E quiçá quem sabe então
Este rosto ai tão versátil
Não seja aquele do teu maior agrado?!

-Lá com seus botões,
O homem de TEATRO
Sem economias,
Esbraveja intrépido: 

-Ah, seu desaforado menestreuzinho!
Presta atenção aqui, digo-te eu!
Se a ti eu te estimulei insistentemente
A perder a sagrada invisibilidade,
Foi tão somente porque tenho pressa
Em introduzir-te no profundo segredo
Da sublime arte de interpretar.
Portanto larga de ser besta
E apressa-te a interpretar
Com talento á beça,
Todos os personagens
Que te serão ofertados...
Pois se o tempo e a vida
Ligeiros se esvaem pra todos,
Eu ainda vivo pretendo ver-te
Interpretar e alçar voo ao sucesso
Antes que para mim
Se apaguem os holofotes,
Se cerrem as cortinas
E, de súbito, se me calem os aplausos
Que a mim tanto me aprazem... ora!      


Montes Claros (MG), -24/07/2012

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