(Sob o olhar de um homem
de TEATRO)
-Lá com seus botões
O homem de TEATRO
Rumina devaneios: 
-Ó meu menestrezinho em chegada
Se concluída a tua gestação demorada 
A natureza a ti te infrinja a abandonar
O aconchego quente do útero materno
E se isto a ti em nada te apraza... 
Então eu te proponho 
Veementemente 
Que ainda no proscênio desta vida
Protestes gritando 
E protestes aos berros!...
-Entretanto... 
Se perceberes...logo que do parto 
Nessa terra te derrames estrebuchando,
Que neste mundo agitado 
Não há outra saída 
Senão viver 
E viver artisticamente 
Então prova tua existência...gritando,
E gritando aos berros!...
-Mas se desde a tua concepção 
Tão desejada 
És tu tão ansiosamente esperado
Então vem depressa!... Vem logo!
Porquanto de curiosidades 
Perco-me em ansiedades 
-Mas se vieres agorinha mesmo
Se me mostrares o teu rosto 
Ainda oculto,
Contar-te-ei um segredo
Ao pé do ouvido
Então olha só! O meu delírio 
Cá tão somente entre nós
Outro não é senão o de ver-te 
Atuar no dia a dia 
Pelos incontáveis tablados desta vida 
Verdinha verdinha
Fazendo reflorescerem
Em mim,
Tantas emoções escondidas 
-Portanto...coragem!
Vem depressa! Vem a pés em chão!
Pois aqui um mundarel de gente
Espera-te...ansiosamente
E tem pressa á beça...ora!   
-Lá com seus botões,
O homem de TEATRO
Pensou ter ouvido 
Sussurros abusados: 
-Olha só aqui... 
Seu teatrólogo impertinente! 
Presta bem atenção!... 
Se versátil será o meu ofício 
De futuro menestrel,
Saiba que tanto mais ainda
O será o semblante
Inconstante e volúvel
Do meu rosto a chegar
Entretanto...se mesmo assim
Te dá gosto conhecê-lo...de imediato,
Então escolhas ai 
Na ladainha...abaixo, 
Aquele que mais do teu agrado seja:
-Um rosto dolorido...
-Um rosto tristonho,
-Um rosto espantado...
-Um rosto assustado,
-Um rosto empalamado...
-Um rosto faminto,
-Um rosto multimascarado
Como é devido 
A um verdadeiro artista.
Ah! E quiçá quem sabe então
Este rosto ai tão versátil 
Não seja aquele do teu maior agrado?!
-Lá com seus botões,
O homem de TEATRO
Sem economias,
Esbraveja intrépido:  
-Ah, seu desaforado menestreuzinho!
Presta atenção aqui, digo-te eu!
Se a ti eu te estimulei insistentemente 
A perder a sagrada invisibilidade,
Foi tão somente porque tenho pressa 
Em introduzir-te no profundo segredo
Da sublime arte de interpretar. 
Portanto larga de ser besta 
E apressa-te a interpretar 
Com talento á beça,
Todos os personagens
Que te serão ofertados...
Pois se o tempo e a vida 
Ligeiros se esvaem pra todos,
Eu ainda vivo pretendo ver-te 
Interpretar e alçar voo ao sucesso
Antes que para mim 
Se apaguem os holofotes,
Se cerrem as cortinas
E, de súbito, se me calem os aplausos
Que a mim tanto me aprazem... ora!      
Montes Claros (MG), -24/07/2012
RELMendes

Nenhum comentário:
Postar um comentário