sábado, 11 de junho de 2016

Os ventos sopram-me saudades...


-Ah! Quanta vez na madruga...
A chamar-me...os ventos
Assoviam-me n’alma:
-Saudades dos bogarims
Que perfumavam as ruas
Da minha infância...
Tão cheia de detalhes!
-Ah! Quanta vez na madrugada
A chamar-me...os ventos
Assoviam-me n’alma:
-Saudades dos cheirinhos
Que minha mãe dava
Em meu cangote...
Quando eu a aporrinhava
Com meus calundus
De criança mimada...
-Ah! Quanta vez na madrugada
A chamar-me...os ventos
Assoviam-me n’alma:
-Saudades dos meus passeios
De bicicleta...ao entardecer,
Pra conversar com os passarinhos
Vez que meu pai não nos permitia
Tê-los engaiolados em casa...
Para ele os passarinhos nasceram
Pra voar a céu aberto sem fim...

-Ah! Quanta vez na madrugada
A chamar-me...os ventos
Assoviam-me n’alma:
-Saudades de tantas outras coisas
Que  não sei bem o quê...
Quiçá,já as tenha por esquecidas,
E nem os seus porquês...
Eu bem os sei tampouco
Mas ah pretendo sabê-los
O mais rápido possível...
Porquanto, inundam-me a alma alheia
Ah, Se pretendo!
E...bem antes de eu partir
Lá pras bandas do céu... Viu?

Porque...comigo, ah, só levarei...
Sem choramingas alguma
Aromas suaves do que não esqueci
Lá do meu pretérito de criança:
-Quiçá, saudades de mim mesmo...
Quando me derramava...menino bagunceiro,
Pelos quintais floridos da infância...
-Quiçá, saudades do que em mim eu não fui...
Porque enfim eu desejara...tanto, mas tanto, mesmo:
Ser ah como um bem-te-vi laranjeira a anunciar
Em meu terreiro, alvoreceres eternos...
Como diz Manoel de Barros:
- “E isso explica o resto.”

Montes Claros (MG), 21/05/2016

RELMendes)

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