terça-feira, 31 de julho de 2012

Quem sabe Camila?...

Ah! Quem sabe? 

-Quem sabe... Camila,
Se lá na eternidade...um dia,
Talvez não voltemos a lançar
Pétalas de felicidade ao vento
Pela alegria do nosso reencontro?
-Ah! Quem sabe?!

-Quem sabe... Camila,
Se lá na eternidade...um dia,
Quando a minha cabeça
Repousar...tranquila,  
No teu etéreo regaço...aconchegante,
A tua mão...macia e terna,
Não possa afagar novamente
Meus longos cabelos negros
Que ainda hoje carecem...ávidos,
Dos afagos de teus carinhosos dedos?
-Ah! Quem sabe?!

-E por fim... Quem sabe... Camila,
Se quando eu adormecer
Para sempre...um dia,
Não terei...lá na eternidade,
Mais uma vez...ainda,
A felicidade de te ouvir dizer-me:
 “Nunca deixarei de amar você!”...
-Ah! Quem sabe, enfim?!

Montes Claros (MG),  01-01- 2012
RELMendes

 



segunda-feira, 30 de julho de 2012

Nhá Geralda do Cintra!

(Uma refrescante “Vereda”, na minha estrada!...) 
-Talvez /uma quilombola/quiçá?
Mas... /certamente/sem dívidas/
Uma generosa mulher/ muito â frente de seu tempo/
Inhá Geralda do Cintra/ encrenqueira/ à beça/
- Cintra/bairro /hoje/ central em Montes Claros -
Mascava fumo de rolo...sem parar/
E/ porquanto/ ia odorando /todo ambiente/
Por ela percorrido...em sua bagunçada /quimbembe/
Com aquele mal cheiroso odor/desagradável!

-A querida /quera octogenária/Inhá Geralda do Cintra/
Se embiocava...que nem tatupeba/emburacado/
Numa quimbembe /mal iluminada/ à beça/
Pela fraca luz de uma velha /absconsa/a querosene/
E pra arrancá-la/ de lá/...por qualquer motivo/
Ah/ dava o quê fazer!

-Após a sesta /de todo dia/nunca dispensada/
Ela sempre era circundada por cunhãns...desocupadas/
Que à sua porta fervilhavam.../aos montes/
Pra fuxicar...de todos. E se besuntarem/as pampas/
De seus tantos conselhos...cochichados/ ao pé do ouvido:
Ora tão sábios... Ora tão/ espantosamente/ absurdos.

-Inhá Geralda do Cintra
Era um “taquinho de gente”/insolente/
Um catatau feminino/ inquieto/ pacas!
Saltitava pelas ruas do Cintra...
- Que nem guariba assustado
Pelo fogo a incendiar a mata -
Rumo à igreja “Nossa Sra da Consolação”
Onde rezava /frequentemente...sem cessar/
Quer sol a pino/ quer chovesse/aos borbotões!

-No sovaco... /Inhá Geralda do Cintra/
Sempre transportava /consigo/
Uma sombrinha/ esgarçada/
Como se uma útil quiçama /fora.
Chegava a ser até/ muito engraçado!
Mas... ai de quem dela /zombasse/
Por decerto /enfrentaria a fúria/
Da comunidade/ inteirinha!

-Analfabeta / Inhá Geralda do Cintra/
Nem os xenxéns/ mensais/
- Da sua aposentadoria / rural/ -
Bem os distinguia ou os conhecia!...
Mas considerada era/ por todos/
Tesouro de grande sabedoria!

-Ao conhecer-me/ Inhá Geralda do Cintra/
Não hesitou/ em acolher-me/depressa/
Como um filho/ muito querido!
E diga-se /de passagem/ à língua solta:
- O que a mim encheu-me/sobremaneira/
De imensa alegria!...

-Mas...numa manhã /qualquer/à época
 Do deslanchar de nossa boa amizade/
Após um longo e aliviado /suspiro/
Voando /rápida/ como um colibri /sedento/
Inhá Geralda do Cintra... /Serenamente/
Partiu lá pro alto da montanha/celeste/
Em busca da flor da Vida...eterna/
E...quiçá/hoje lá em cima /agora/
- Embora/insolente como fora/constantemente/por aqui/ -
Talvez esteja bem escondidinha...lá no alto dos céus/
Se rindo da gente...às gargalhadas/ só de gozação!
Entretanto ...confesso/ sem nenhum constrangimento/
Que a bendita/ tal Inhá Geralda do Cintra/
Deixou conosco/por aqui/ uma saudade... Infinda!

Montes Claros (MG), 22-11-2011

RELMendes

domingo, 29 de julho de 2012

Um ancião peregrino em Vinhedo...


Cantar em versos
Lembranças de  uma santa amizade
É desnudar a gratidão sentida
Pela vida do bom amigo
-Tesouro divino-
Com o qual Deus
Surpreendentemente,
Um dia me agraciou
Na longa travessia da estrada da vida
Por mim ainda hoje percorrida...

Não se pode esconder a luz
Que discreta esplende do gentil amigo,
Pois grato dela sempre desfruto
Pra alumiar-me o caminho da conversão
Que persistentemente persigo
No transcorrer do meu cotidiano
Prudentemente vivido...

No meu amigo não há dolo algum!
Nele... nada há de humanos desvarios
Já que estes desconhecem o reto caminho.
É o bom amigo de muitos,
Sempre transborda de santa alegria...
E é pródigo na caridosa arte do acolhimento.
No silêncio...sempre partilha com Deus
A dor do amigo sofrido
Que... por algum motivo,
Perdeu os melódicos acordes
Da vida...

Habilidoso,
Dá uma cadência serena aos aborrecimentos,
Dissipando-os com a santa paciência
Que desde jovem burila....
Discretamente, em sua cela.
Com límpido discernimento, desde há tempos                                      
Através da escuta, da obediência e da oração persistentes
O santo intelectual amigo assimila os sagrados ensinamentos                                                                                                    
Extraídos da Santa Regra de Bento.
                         
No mosteiro... 
O justo Joaquim exerceu o oficio de abade,
Que é ser de todos o maior servidor na comunidade.
Agora, emérito, o  sábio ancião peregrino
Prossegue generoso a cultivar as amizades
Que amealhou durante o longo e fecundo trajeto da vida.

À sombra dessa abençoada amizade
Que carinhosamente chamo de  relva de ternura,
Ainda hoje, eu...como também tantos outros,
Nela encontramos a referência segura pra permanecermos
No tão decantado e reto caminho do Amor Divino...

(Mt 5,14-16)
Montes Claros (MG), 26-02-2012
RELMendes