Frei Jordão de Oliveira OP
Meu Deus! Quando minha memória se dispões a passear lá
no passado, Ela sempre encontra algo de interessante a rememorar. Portanto, vamos
acompanha-la em suas andanças pra ver o que ela ira cascavilhar lá no passado
já tão distante.
Cá comigo tenho por certo que, novamente, nos
conduzirá ao Convento dos dominicanos, situado à rua, do Ouro, bairro da Serra
em Belo Horizonte, lá pelos idos de 1961.
Desta vez para falarmos de um cara incrível, e muito
santo, frei Jordão.
E por que não?
Ora! Se nem o
tempo conseguiu apagar em mim suas santas lembranças, não serei eu quem as
esconderei vez que não seria nem pertinente ao relato, nem tampouco justo ao
protagonista.
Quando conheci frei Jordão, ele já era um frade presbítero
e vice mestre de noviços. Era um jovem homem de sorriso afável e permanente.
Penso que frei Jordão, em sua juventude, como eu deveria
ser “um garoto que amava os Beatles e os Rolling Stones”.
Vez que em sua maturidade, quando o conheci, apesar de
acometido por uma terrível doença – uma tuberculose calopante adquirida em uma
de suas extravagâncias esportivas, subir a “Serra da Piedade” correndo sem
agasalho- sempre o encontrávamos perdido em alegria e brincadeiras
interessantes.
Esse cara era verdadeiramente um santo.
Dias após a minha tomada de hábito, eu o escolhi para
meu confessor vez que se ao Mestre de Noviços,
considerado a Regra Viva do convento, cabia conduzir-nos ao conhecimento e a vivência
do carismas da Ordem, aos demais frades presbíteros, segundo a livre escolha de
cada noviço, competia ouvir-nos em
confissão e dar-nos orientação espiritual .
Então, contar-lhes-ei um interessante fato que
confirma a santidade desse bom homem com quem tive a oportunidade de conviver
no convento por alguns poucos meses:
Certa feita, numa tarde qualquer daquele saudoso
tempo, quando fui me confessar, ao bater à porta de sua cela deparei-me com uma
enternecedora cena de profunda paciência consigo mesmo e com suas limitações.
Lá estava ele prostrado ao solo de braços abertos e
rindo se si mesmo, porque fora tentar rezar de joelhos e caira de bruços ao
solo. Ao entrar, disse-me que já se encontrava naquela posição a mais de duas
horas a espera de alguém que viesse ajuda-lo a se levanta.
Pediu-me que lhe desse o braço para que pudesse se
apoiar e por si só se levantar. Então compreendi que, realmente, ele se
encontrava muito debilitado. Mas, a maior surpresa, foi quando me pediu pra
ajuda-lo a trocar o hábito que tinha se sujado porque era muito branco.
Meu Deus!... O santo homem era só pele, osso e sondas excretoras
do excessivo fluido pulmonar que escorria de seu magérrimo corpo franzino. E no entanto,
nunca ninguém o vira lamuria-se de nada. Pronto! Daquele momento em diante,
eu já não tinha problema algum! Uma vez recomposto disse-me carinhosamente:
- Frei Boaventura, estou a sua disposição! O que o
senhor deseja?
Profundamente encabulado, disse-lhe:
-Vim apenas reclamar de quase nada. Mas, ao observa-lo
com tanta paciência para consigo mesmo, já obtive a paz que eu vim procurar.
Agradeci-lhe ternamente, o acolhimento e parti curado, de alma e de mente.
Conta-se que esse tal frei sorriso, com o qual eu tive
o privilégio de conviver ainda que por pouco tempo, morreu brincando com seus
confrades que cantavam a Salve Rainha na hora de sua morte.
- “Gente, se desafinarem na minha missa de “réquiem”
como estão desafinado agora, eu salto do caixão e saio correndo por ai afora”.
Contaram-me, também, que após dizer isto, sorriu,
respirou fundo e partiu.
Valeu, homem sorriso!
Até breve!
Montes Claros, (MG), 12-04-2015
RELMendes
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