( 77 anos de
pura safadeza)
Alguns dias
atrás, como é de costume, fui fazer alguns exames laboratoriais e lá me
encontrei com um senhorzinho, bem mais velho do que eu, que também esperava a
sua vez para coletar seu sangue.
Até então, não
obstante sermos muitos tagarelas, até demais da conta, nem eu, nem tampouco ele
havíamos nos cumprimentados, nem... “en passant”. Entretanto, feito a coleta, nos dirigimos à
sala de desjejum e por lá começamos um bate boca agradável sem fim.
Até que, com
muita gentileza, fomos convidados a nos retirar do recinto porquanto a baderna
já tinha ultrapassado os limites suportáveis
para um ambiente tão recatado quanto o de um laboratório. Falávamos de
coisas do pretérito enfim:
- quem eram os
nossos familiares;
- quem eram os
amigos em comum;
- por onde
havíamos andado na juventude;
- onde
morávamos e assim por diante...
Quão alegre eu
ficara, que me parecera sermos velhos amigos. Daí não hesitei em convida-lo
para almoçar comigo naquela manhã mesmo lá num restaurante Mendeiros. Aquele
que fica ali bem pertinho da rodoviária de Montes Claros do outro lado da rua
perto de um posto de gasolina. Nesse
restaurantesinho Medeiros tem um tal de “ comercial” que é uma delicia. E o melhor é que um só da
pra duas pessoas saírem de lá satisfeitíssima, e ainda sobra comida pra se
levar pro cachorrinho...
( Aqueles
marmitex que a gente diz que é pro cachorrinho, sabe né?)
Ah! E por apenas R$ 12,00, viu?!
Bom! No inicio
ele hesitou quem nem o “Chaves”, sem querer querendo ir. Então como era final
de mês, e, em sendo aposentado, percebi que devia está sem um centavo nos
bolsos. Então, insistindo, disse-lhe:
- vamos eu
pago tudo! Ora! Então, ele saltou rapidamente no taxi, que nem saruê faminto ao
ver um ninho de passarinho cheinho de ovos saborosos. E lá fomos nós apotocar e
a gargalhar à beça dos tantos besteiróis que trocávamos entre nós. Entretanto,
em poucos minutos, já à porta do restaurante, quais não foram às surpresas
desagradáveis:
Antes de
adentrarmos ao refeitório, disse-me ele:
-Hum, to com
uma vontade louca de fumar!
Você pode
compra um cigarrinho para mim?
Comprei um
daqueles que se vende a varejo e dei-lhe dizendo-lhe:
-Cara!... É de
bom tom que se mantenha o próprio vicio!
Imediatamente
em seguida, apresentou-me um tal amigo, também, idoso que do nada aparecera por ali em uma
bicicleta, segundo ele a procura de serviço. Então o meu talvez futuro amigo, voltou-se para mim
e contou-me que aquele bicicleteiro idoso estava com muita fome e perguntou-me
com maior cara de pau:
-Você poderia
dar-lhe uns trocados para que ele possa pagar a refeição dele?
Antes de
dizar-lhes o que lhe respondi, relatar-lhes-ei o que pensei cá com meus botões.
Putzgrila! Que
cara aproveitador!
Mas que
intimidade é essa, em tão pouco tempo de convivência?
Orabolas?! Então, resolvi apelida-lo de Zé da ONG das
espertezas. Gente, ta cheio deles por ai, viu?
Bom!... vamos
retornar ao assunto.
Respirei
profundamente, contei até dez, e disse-lhe assim:
Ô seu Zé da
ONG das espertezas, quando eu quero fazer caridade, não peço a ninguém que a
faça por mim. E se você está compadecido dele,
dê-lhe você mesmo, o dinheiro que necessita para se alimentar , eu to
fora. Gente, o tal bicicleteiro estava mais bem vestido que o falecido Clodovil
em dia de apresentação do seu programa de TV. Enfim, mesa posta e lauto almoço
servido, pusemos-nos à comilanças. De
esguelha, eu observava o magérrimo, Zé da ONG das espertezas se fartar faminto,
que nem “guariba”, sem comer por dias e dias, após a queimada da floresta em
que vive.
Finda a
refeição, despedi-me apresado. Entretanto, ele olhou de um lado pro outro, e
perguntou-me, se fazendo de besta:
- Onde
estamos? Como faço pra voltar para o centro?
Então,
disse-lhe:
-Toma o
ônibus... ara!
-Olha só o
ponto dele ali!
Por incrível
que lhes pareça, pra completar o clima já não tão amistoso, o seu bendito Zé da
ONG das espertezas, com uma cara de menino abandonado, sussurrando-me ao pé do
ouvido, confessou-me que não podia pegar o ônibus, vez que, além de não ter
dinheiro para pagar sua passagem, perdera também sua RG (carteira de
identidade) que comprovaria ter ele mais de 65 anos.
Não vendo
outra saída mais gentil e humana, disse-lhe:
-Então vem
conosco!
Com um aperto
de mão, o descartei lá pelas bandas do Mercado Municipal, onde havia dito que
morava.
Ufa! Dora em
diante, pretendo nunca mais deixar-me levar pela euforia do momento, vez que
aprendi que nem tudo que reluz, é ouro!
Entretanto,
não obstante, deixarei sempre aberta a porteira da amizade pra quem queira
compartilhar comigo a alegria e a generosidade que em mim, abundantes, ainda
esplendem.
Até
breve.
Montes Claros-
MG 30-06-2015
RELMendes
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