domingo, 21 de outubro de 2012

Um estreito afeto

(entre a musa e o ancião poeta!....)

Com certa frequência...
Ponho-me à janela da reflexão...
A ocultar matreiro,
A minha face brejeira,
De ancião-criança!...

Com uma máscara fingida de tristeza,
Tento seduzir a desconfiada musa,
Que atrevida, vez por outra, desaparece...
Deixando-me a contar estrelas...
Ou melhor,
A chupar todos os dedos...
Lambuzados de saudade dela!...

Saudade... tristeza... euforia, ou alegria...
São excitantes hormônios da libido da musa,
Que de longe,
Sente o cheiro do meu poético cio...
Como se parecesse perceber...
O exato momento para fecundá-lo...
Com seu terno hálito de inspiração.

Então,
Os sentimentos ledos,
De lembranças resguardadas...
Lá... num lugar sagrado,
(O útero imaginário do poetificar,
Donde se alojam agasalhados),
Eclodem luminosos...
Para se transmutarem em versos airosos...
Na mente do ancião poeta!...

Arisca, a musa de meus versos...
Assemelha-se a um colibri assustado,
Que esvoaçando, chega inesperado!...
Veloz, trisca astuto as perfumadas flores...
Pra sedento, sugar delas o saboroso néctar,
Que lhe propicia alçar livre...
O voo da passageira euforia...

Saciado por instantes,
Bólido, num piscar de olhos,
Dali desaparece...
Para logo em seguida,
De repente,
Retornar melancólico,
A ciciar sedento!...

Também a despudorada musa,
(À parecença do aloprado colibri),
Toca com delicada leveza meu peito,
(Transparente taça de cristal,
Mais fino que os da Bavária).
E ao seu mais sutil toque,
Logo o cristal do peito se espatifa...
Em gotas de emoções,
Que rápidas,
Transmutam-se...
Em airosos versos,
De “inenarrável ternura”!...

Montes Claros, 11-03-2012

RELM Mendes   

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