domingo, 28 de outubro de 2012

Só alguns retalhos de saudade!...

                                                        (poecrônioca!)

Após o almoço,
Enquanto na rede
 Zefinha suspirava debulhando as contas do rosário,
(Que lhe escorriam por entre os miúdos dedos
a cada Ave Maria),
Ernesto, o carrancudo marido,
Cochilava (durante a prolongada sesta)
Embalado por sonhos e devaneios,
Quiçá, transportados da infância
Lá dos tempos vividos no Alentejo.

A prole de seis rebentos
Entretinha-se por ali mesmo,
Esfregando-se pelos cantos,
Ao derredor dos velhinhos!

Com exceção de Julieta,
(Que se casara com Sebastião,
o  decantado fiscal da receita),
E da corajosa e destemida Elisa,
A quem o intransigente patriarca
Não perdoou nem no seu leito de morte,
Só por ter ousado se enfiar
No convento das célebres doroteias,
Sem ter o seu devido consentimento!

Guiomar, a mais serelepe das três velhinhas,
Vez por outra, sustentada pelas pernas muito finas,
( Que nem cano de carabina de cangaceiro,
como diria Carlos, único varão entre as meninas),
Aventurava-se a ficar debruçada
No grosso parapeito da janela da sala
Só pra bisbilhotar a vida alheia,
Que lenta se derramava
Pelos incandescentes paralelepípedos
Que cobriam a rua onde felizes residiam!


Tula, a mais tímida das meninas,
(Diga-se de passagem muito parecidas
com aquelas “cajazeiras da novela”),
Sempre se continha lá no borralho
A preparar o rango da família,
Mas vez por outra de soslaio,
Observava tudo o que na sala ocorria!

A mais aperreada
Das três vitalinas
Era a Berta!
Uma espécie de sentinela desperta,
Um verdadeiro leme,
Pois tudo na casa
 Conduzia sozinha!

Lá pelos recantos da hoje famosa Aldeota
Fui recolhendo esses retalhos de saudade
Como se fossem velas coloridas de jangadas,
Que ainda hoje vejo a tremular nos verdes mares
De minhas muitas lembranças!...


Montes Claros(MG), 30-06-2012
RELMendes


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