(poecrônioca!)
Após o almoço,
Enquanto na rede
Zefinha suspirava debulhando as contas do
rosário,
(Que lhe escorriam por
entre os miúdos dedos
a cada Ave Maria),
Ernesto, o carrancudo
marido,
Cochilava (durante a prolongada
sesta)
Embalado por sonhos e
devaneios,
Quiçá, transportados da
infância
Lá dos tempos vividos no
Alentejo.
A prole de seis rebentos
Entretinha-se por ali
mesmo,
Esfregando-se pelos cantos,
Ao derredor dos velhinhos!
Com exceção de Julieta,
(Que se casara com
Sebastião,
o decantado fiscal da receita),
E da corajosa e destemida
Elisa,
A quem o intransigente
patriarca
Não perdoou nem no seu leito
de morte,
Só por ter ousado se
enfiar
No convento das célebres
doroteias,
Sem ter o seu devido consentimento!
Guiomar, a mais serelepe
das três velhinhas,
Vez por outra, sustentada
pelas pernas muito finas,
( Que nem cano de carabina
de cangaceiro,
como diria Carlos, único
varão entre as meninas),
Aventurava-se a ficar
debruçada
No grosso parapeito da
janela da sala
Só pra bisbilhotar a vida
alheia,
Que lenta se derramava
Pelos incandescentes
paralelepípedos
Que cobriam a rua onde
felizes residiam!
Tula, a mais tímida das
meninas,
(Diga-se de passagem muito
parecidas
com aquelas “cajazeiras da
novela”),
Sempre se continha lá no
borralho
A preparar o rango da
família,
Mas vez por outra de
soslaio,
Observava tudo o que na
sala ocorria!
A mais aperreada
Das três vitalinas
Era a Berta!
Uma espécie de sentinela
desperta,
Um verdadeiro leme,
Pois tudo na casa
Conduzia sozinha!
Lá pelos recantos da hoje
famosa Aldeota
Fui recolhendo esses
retalhos de saudade
Como se fossem velas
coloridas de jangadas,
Que ainda hoje vejo a tremular nos
verdes mares
De minhas muitas lembranças!...
Montes Claros(MG),
30-06-2012
RELMendes
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