quinta-feira, 22 de maio de 2014

O PRELÚDIO DA FINITUDE



   (coisa que não devia espantar!)


O prelúdio da finitude
Atrela-se, sorrateiramente,
Ao momento exato
Em que esplende a vida.

Talvez por estarmos envolvidíssimos
Com a ânsia de imortalidade terrena,
Não o percebamos, de imediato,
Mas... tanto a indesejável das gentes,                                    
Como chamou,  Bandeira, à morte,
Quanto à tenra, hábil, anelada e belíssima vida,
Tão decantada por Trótski, Chaplin, Benigni,
E tantos outros enfim,
Despontam juntinhas!

Ah, essa “indesejável das gentes”!...
Será mesmo que se há que temê-la tanto?
Se tanto ela, a desconhecida morte,
Quanto aquel’outra...a iluminada vida,
Talvez nada mais sejam
Que, apenas, breves momentos...
 A serem vividos intensamente,
Ou talvez, quem sabe não sejam mais
Que um tão somente do visível anverso
E do obscuro reverso da mesma moeda-vida,
Ou talvez ainda, que uma seja apenas o agora,
Enquanto a outra seja tão somente o não ainda,
E se assim for, pra quê tanto pavor...
E tamanho assombramento?

É...pois é!
Da iluminada vida, afirma-se que há pausas aos montes,
Porque podemos degustar-lhe seus muitos “entres”:
Entre a tristeza e a alegria há uma longa pausa de espera;
Entre a saudade e o reencontro, também, há pausas
De ansiedades tantas..e quantas?!
Mas...já da morte, a finitude da vida, esse grande mistério,
Nada sabemos, a não ser que nos incomoda,
Imensuravelmente, ainda que creiamos, desejemos
E esperemos uma plenitude por vir.

Então, deliberadamente, questiono-me:
Ah! Se as flores e as folhas fenecem no outono
E reflorescem ou ressurgem na primavera,
Não seria mais óbvio pensarmos
Que a “indesejável das gentes,”
Nada mais é que a primavera
De mais um novamente da vida?!


Montes Claros (MG),17-05-2014
RELMendes 

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