Nas lojas dos grandes
magazines...
Nas recepções das empresas
e escritórios...
Monta-se uma ridícula
vernissage,
Onde se põem à mostra
elegantes operárias...
Portando uma pernóstica
postura de “serveuses”
Metidas a besta!...
Exalam perfume de grife
estrangeira,
Portam, com elegância,
fino lenço no pescoço,
Vestem belos tailleurs
alinhados,
Calçam scarpin de salto
alto,
Têm cabelos sedosos e
arrumados,
Mostram unhas e pés bem
cuidados,
Falam baixo, com voz doce,
macia e agradável,
Concordam sempre com tudo!...
Vez por outra... a disfarçar,
Dão alguma sugestão,
Se derramando em discreta
gentileza...
É essa a aladainha
recorrente...
Das inúmeras obrigações
impostas
No suntuoso e refinado
ambiente de trabalho,
Para manter uma falsa
aparência européia,
Que ainda hoje encanta,
sobremaneira,
Os contratadores de cá,
Dos quentes trópicos
brasileiros!...
Cumprida a estafante
jornada de trabalho,
Desvestem-se da grotesca
fantasia,
E retornam cansadas...
Ao gostoso cafofo,
Onde se esconde a
realidade
De suas vidas.
Ao chegar lá:
Asseiam-se com banho de
caneca...
Perfumam-se com água de
cheiro de jasmim...
Vestem folgadas saias de
chita estampada
Ou, simplesmente permanecem
descompostas,
(Como é de preferência...)
Matam a fome com um
ligeiro mexidão
(Acocoradas perto do velho
fogão)...
Arrotam sem nenhuma precaução...
Bebem água aos fartos
goles...
Conversam e gargalham...
Com quem se achega...
E por fim,
Se jogam em seus leitos
surrados!
Ah quem dera que fossem
cobertos...
Com alvos lençóis
cheirando patchouli,
(Trazidos lá do Belém do
Pará!...)
Sem se apoquentarem
Com o matraquear dos
barulhentos familiares,
Adormecem estafadas...
Como se nos braços de
Morfeu repousassem...
E pasmem!...
Parecem ter sonhos
maviosos...
Como se embalados fossem...
Ao som da própria harpa de
Orfeu.
Antes que um novo
alvorecer se achegue
E tenham novamente...
Que se revestir de
“serveuses”,
(Pra alindar a vernissage
da galeria em que trabalham,)
Ressonem... ressonem.... ó
belas ninfas do Brasil!...
Montes Claros, 19-07-2012
RELMendes
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